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Quando comecei a pensar neste texto, uma música que denuncia meu estilo velha guarda me veio a cabeça. Na verdade o que lembrei mesmo foi de uma frase da letra: tomar o mundo feito coca-cola* (Último romântico, Lulu Santos). Firmei o compromisso de dar goles na vida com gosto, desses que damos na água quando há sede, há alguns anos e isso é um farol que norteia praticamente todas as minhas decisões importantes. Desde o que me exige esforço até o que parece pouco aventureiro.
Faço exercício diariamente, por exemplo, porque desejo ter força e vitalidade por muito tempo para que assim eu siga devorando a vida até o fim como a senhorinha que vi saindo do restaurante em que almocei ontem. Pegou um capacete, subiu na bicicleta e foi embora serelepe. Se isso não é tomar o mundo feito coca-cola, entendi tudo errado e isso é um problema já que leio, estudo e aprofundo temas para que eu não perca um segundo de potência deste cérebro. Claro que na prática eu "perco" bem mais que isso de tempos em tempos porque nem tudo é tão literal. Apenas tento viver dando valor a existência e dado a quantidade de vezes que já escrevi sobre isso, podemos, corretamente, chamar de obsessão.
tolice que é viver a vida assim sem aventura*
Também foi por este compromisso que topei mudar de cidade e estado duas vezes em menos de dois anos, que enfrento meus dilemas na terapia e que decidi tentar retomar antigos sonhos profissionais aos 35 anos. Com isso em mente, achei por bem realizar um desejo adiado por muitos: ter um clube do livro. Sempre terminava as minhas leituras com uma vontade imensa de conversar com alguém sobre aquelas palavras. Meu marido costuma receber uma enxurrada dos meus comentários, mas se ele não leu a mesma coisa que eu o diálogo se torna monólogo.
Entrei em clubes de outras pessoas e amei a experiência (estou em um deles até hoje), no entanto não foi suficiente para satisfazer meu desejo. Queria debater um título de escolha própria. Por isso, em 2022, fiz o meu clube - antes mesmo de ser através desta newsletter. E agora, em 2023, um ano depois, o encerro pela mesma razão que o comecei.
Hoje eu não consigo mais me lembrar de quantas janelas me atirei/ E quanto rastro de incompreensão eu já deixei/ Tantos bons quanto maus motivos/ Tantas vezes desilusão/ Quase nunca a vida é um balão*
Não foi fácil tomar esta decisão porque o clube se tornou ambíguo para mim. Ao mesmo tempo que representava tomar o mundo feito coca-cola* também significava tempo a menos em outros goles que queria dar. A dúvida sobre o que fazer me encasquetou por dias. Afinal eu tinha realizado algo desejado. Depois que a gente experimenta o que tanto queria fica uma sensação de que precisa ficar nisso para sempre.
Estes dias, estava conversando com uma nova amiga e ela contou que passou anos sendo funcionária CLT até ter coragem de testar a vida autônoma. Ficou um ano assim. Testou, aprendeu, se divertiu, sofreu um pouco, viveu até surgir uma oportunidade de voltar ao mercado. Preferiu aceitar. Imagina se ela passasse a vida só pensando?! Nunca saberia. E se precisar voltar a empreender? Já sabe suas fragilidades, com certeza vai lidar melhor.
No meu ciclo decisório, fiquei ainda mais presa a permanecer por estar dividindo as horas de clube com um grupo cheio de gente fina, elegante e sincera*. Dar tchau aos nossos encontros foi minha maior dor e o que deu mais nó na garganta.

Repensei mil vezes, decidi e não decidi outras mil, até que o escritor Milan Kundera faleceu e eu lembrei da existência da finitude. Do valor de fazer o que se quer fazer. Por uma vida que eu tenha feito tudo que estava ao meu alcance para realizar sonhos e não só os profissionais. Estava então decidido, era hora de focar em um novo gole. Pode ser que venha amargo ou azedo, não há garantia alguma quando a gente decide se apropriar dos próprios espaços e vozes. Quando quero, tudo bem.
Não há tempo que volte, amor, vamos viver tudo que há para viver, vamos nos permitir*.
*trechos de músicas do Lulu Santos que fez 70 anos em maio - taurino como eu - com festão, muita energia, um amor assumido com toda liberdade que se todos devem ter e uma vida inteira sendo devorada.
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A música de hoje não poderia ser outra, né?
Agradeço desde já o carinho, torcida, leituras e partilhas.
Uma semana com goles gigantes na vida para nós.
Um beijo,
Gabi
O fim dói, mas também liberta
repensar o trajeto é parte dele, né? também tô nessa e feliz demais de ter pessoas tão inteligentes, como vc, acompanhando a jornada.
que venham bons frutos das tuas mudanças <3
todo fim é tambem um começo <3 adorei a news