No final deste texto tem algumas novidades sobre sua assinatura, não deixe de conferir.
Sou uma produtiva. Falo com o artigo "uma" antes da palavra porque quero que seja lida como advérbio e não como adjetivo. Não na forma gramatical ideal, pode inclusive estar errada essa colocação. Faço esta frase com o propósito das minhas escolhas e forma de trabalhar serem compreendidas.
Semana passada escrevi aqui que as mulheres carregam a palavra "agradar" mesmo sem verbalizar. Hoje, faço uma extensão dessa colocação para outros verbos. Suprir, cuidar, executar. O que precisa ser feito, a gente faz. E vamos além porque ficar no lugar comum soa mal.
Treinadas como operárias do fazer em todas as áreas, desconhecemos o ócio. Observo que estamos evoluindo na pauta descanso e falando mais sobre ele em conversas e mídias. Eu, inclusive, tenho zero problemas com o deleite -, mas assumo aqui que quando estou na piscina de um hotel, sol a pino, com uma caipirinha de caju ou cajá em mãos, minha mente nem sempre está de fato quieta.
Descansar para descansar
Na última semana, viajei por uns dias com a ideia de ter uma semana de férias. Me preparei para este momento deixando textos prontos, organizando a vida e todos os prazos possíveis. Fui, com dois ou …
Como autônoma por muitos e muitos anos, me habituei a olhar para qualquer coisa ao meu redor, incluindo a fruta do meu drink, e começar a ter ideias "geniais" ou confabular sobre aquilo. É ótimo ser curiosa, agradeço sempre por essa característica, mas o tempo todo? Isso é normal? Preciso mesmo abrir o google para saber a origem do cajá?
Lembro que quando era adolescente, meus pais tinham ajuda contratada pois ambos trabalhavam e estudavam. Quando a profissional faltava e ficávamos eu e minha irmã em casa sozinhas, eu abria os armários da cozinha e começava a limpar tudo. Aos 18, estava fazendo cursinho para o vestibular e era um ano de vacas magras em casa. Aí, peguei os R$50 que tinha e fiz um curso de bijouteria no centro do Recife, ainda comprei uns materiais. (bons tempos que esse dinheiro rendia algo).
Vendi bijouterias feitas por mim para conhecidas, esse foi meu primeiro trabalho. Na universidade, fui voluntária em projetos internos. Consegui um estágio lá pelo 30 período, abri um blog nessa mesma época. Poderia ser só uma página para publicar meus conhecimentos e servir de portfólio, mas sendo uma produtiva… pesquisava e abria photoshop e aprendia a usar a câmera fotográfica (isso até hoje não sei muito bem) e trabalhava o texto incansavelmente. Ajudou? Claro, isso me fez quem sou. Mas, repito, o tempo todo?
Entreguei muito nesses mais de 15 anos sendo uma mulher que trabalha. Nem sempre recebi de volta e em termos financeiros prefiro nem comentar. Afinal, somos as produtivas e ganhamos menos. Dinheiro, reconhecimento, tempo. O pior é que nem da gente mesmo. Eu só consegui escrever a frase do início deste parágrafo hoje, 07 de junho de 2023, porque nos últimos dias essa ficha me foi empurrada na garganta.
Estava pesquisando nos meus arquivos de stories uma imagem e só assim me dei conta do tanto de conteúdo que produzi em 2020. O mundo morrendo de medo de tocar em botões de elevadores e eu trabalhando mesmo com frequentes enxaquecas. "Uma produtiva não esmorece". Quando revi tudo na tela, pensei: ahhh por isso estava tão cansada.
Na mesma semana, conversei com uma amiga para pedir umas dicas e conselhos sobre carreira e ela me perguntou: você sabe o quanto você já fez e faz? Eu só soube porque ela anotou. (risos) Minha designer me acompanha desde a época que eu tinha a Paladar e afeto (minha marca de alimentos para restrições alimentares) e por isso sabe de todos os meus altos e baixos. Quando solicitei um serviço recentemente, ela me enviou: Gabi, você já fez muita coisa incrível, quero colocar tudo no arquivo.
Um giro 3600
Quando a gente fala "minha vida deu uma volta 3600 para expressar o tanto que mudamos, estamos usando uma colocação errada em termos matemáticos e físicos. Se a volta for mesmo 360, você volta para onde estava e não para um novo lugar, então, quando realmente somos sacudidos e mudamos, o giro é de 1800. O meu tem soado como o de 3600 mesmo.
Me formei jornalista no final de 2010, morando no Recife, seguindo o fluxo e com o sonho de trabalhar em uma revista ou viver de escrita escanteado. Escrevia no meu blog e em projetos pessoais, mas não sobrevivia com o tipo de texto que eu queria criar. Produzi para sites institucionais, para releases na fase de assessoria de imprensa, para mídias sociais quando surgiram e, por um período, editei e escrevi sobre moda em um portal local que já não existe. Foi assim que trabalhei por quase três anos (fora os estágios), freelando no jornalismo. Eu amava essa dinâmica, em alguns dias estava escrevendo sobre política, noutros sobre a semana de moda de Paris (sempre um espetáculo). Não havia tédio.
Até que… veio a minha volta 1800. Em meados de 2013 afundei com minhas questões de doença. Já comentei sobre isso em outros envios, mas em resumo eu não sabia que não podia comer glúten nem lactose. Passei 25 anos inflamando meu corpo e sentindo efeitos até ter uma resposta. A essa altura eu não conseguia digerir nem suco verde e nem meia colher de chá de manteiga (hoje consigo alguns lácteos, o glúten é divórcio). Com o mal estar constante nem prospectar clientes era possível, o trabalho sofreu uma queda.
Como já andava insatisfeita com o retorno financeiro, peguei o gancho e decidi mudar. Fiz sabático? Não! Estava me curando, mas queria produzir, afinal sou uma produtiva. Precisei fazer minhas próprias comidas porque naquela época não tinha bolo sem glúten na esquina. Todo mundo elogiava, eu amava cozinhar e aí minha mente pensou: vamos lá, transformar esse hobby em job. (excesso de inglês aqui, mas ficou bom o trocadilho) Lancei a Paladar em 2014.
Por necessidade pessoal - e a essa altura profissional - mergulhei nos estudos sobre saúde, entendi que minha entrega precisava ser mais ampla. Então, fechei a Paladar em 2016 e no ano seguinte voltei para as palavras de outra forma. Dei aulas em cursos, prestei consultorias e palestras, ajudei muitas pessoas a planejarem suas carreiras, metas e projetos com tempo e bem estar de forma realista (a vida não é bolinho mesmo).
Vivi isso por quatro anos. Não era infeliz, como não era no jornalismo antes, mas faltava alguma coisa. Além disso, ser sozinha em todas as pontas me esgotava. Na pandemia, entreguei tudo e muito mais para em seguida pifar.
Não sei dizer se em 2021 eu realmente parei. Se foi de fato um sabático. Sei que terminei todos os contratos e depois parei de postar no Instagram (onde me divulgava), tentei ficar quieta e, por coincidência, nos mudamos para São Paulo.
Foi em 2022 que meu giro 360 aconteceu. Depois de muita terapia, leituras, cursos e peito aberto, reencontrei o jornalismo, a escrita e todos os sonhos que havia deixado guardado por tempo demais. Graças a professoras, amigas novas e antigas, meu marido, meu terapeuta e a ser uma produtiva (tem suas vantagens), cá estou.
Um novo olhar
Ainda que cansada porque acredito que ninguém se recuperou ainda do que foi a pandemia e todos nós tivemos nossas questões nesse período, me senti pronta para dar os novos passos. Tem um livro sendo escrito, tem buscas por jobs e projetos, tem muita vontade e fôlego. Aos 35, voltei para o meu lugar: a escrita. Estou muito feliz em dizer que meu ofício é escrever e comunicar. Sempre foi. Meus pais já me dizem desde os meus 13 anos.
Dado que não sou mais uma adolescente buscando a si mesma e nem uma jovem formada procurando a aprovação do outro, estar no recomeço, mais madura, tem seus ônus e bônus. Sinto um frio na barriga imenso e tem sido um desafio pegar no sono à noite.
Em paralelo, sinto também confiança. Semana passada, fui em um evento literário aqui no Rio e perguntei à escritora francesa, filha de argelinos, Fatima Daas, autora do belíssimo A última filha* (2022), se a escrita preenchia para ela os silêncios da sua face estrangeira. Ela respondeu: quando escrevo, estou em casa. Talvez seja por isso que o verbo "confiar" esteja sentando na minha mesa bem ao lado de "executar". Eu estou em casa.
Uso este textão para contar os impactos de tudo isso nos meus projetos e no meu bem estar. Além desses movimentos profissionais e da necessidade de energia para isso, as mudanças vieram também do "o que meu médico receitou" e vou atendê-lo adicionando mais leveza na vida.
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Os envios seguirão acontecendo nas segundas, mas ao invés de 4 a 5 e-mails, serão 2 a 3 por mês.
Os textos podem variar um pouco mais. Numa semana mais longo, como o de hoje, noutras mais curtos, como as crônicas. Diminui os protocolos aqui. :)
Na última semana, seguiremos com as dicas das artes que me tocaram no mês.
O podcast segue com as entrevistas (inclusive a de junho já foi realizada e está um escândalo), mas também com menos protocolos. Quero fazer um por mês, mas tudo depende das agendas de convidados e minha.
Espero que gostem das novidades. Tenho certeza que chegará para vocês entregas melhores com os espaçamentos e respiros por aqui. E, claro, tudo isso é construído por mim, mas também por vocês e a vida é fluida, podemos ter alguns aprimoramentos com a experiência.
Obrigadíssima por sua presença e leitura.
Um beijo,
Gabi
Uau! Me identifiquei muito com você. Cá estou na sala de embarque me dando umas férias forçadas porque foram raros os momentos que parei. Que bom que vc está se encontrando nessa busca. As vezes a gente se ocupa demais que não sobra tempo pra olharmos com atenção pra nós mesmas. Boa sorte! ❤️
Gabi, me identifiquei em vários pontos do seu texto. Variossss! E tô muito feliz que vc tem escrito. Seus textos, além de uma delícia de ler, são tão ricos ♥️. Obrigada