O que meu médico receitou
Hoje os entrego uma reflexão puramente pessoal de períodos turbulentos, vai que tem acontecido aí também!
Escrevi a newsletter no fluxo mental e não houve tempo de revisão. Pode conter erros gramaticais!
Nesta última semana, marquei consulta com meu médico porque notei que era minha hora de pedir ajuda. Nada grave. Se bem que sempre uso essa expressão quando se trata de qualquer acontecimento na minha vida. É como aquele ditado brasileiro "tapar o sol com a peneira". Às vezes tem serventia e diminui o drama. Noutras, faz com que eu permaneça bons tempos achando que eu não tenho direito de sofrer por qualquer coisa à toa. Geralmente essa "tolice" não é tola.
Enfim, conversei com dr. Fernando sobre meu sono não reparador, meu cansaço, meus sintomas mentais relacionados a burnout, meu ciclo menstrual que podia estar melhor. Entre as descrições da situação, eu emendava frases como "preciso aprofundar a meditação", "preciso fazer tal trabalho", "preciso….". Falava e falava com plena certeza de só jorrar palavras bagunçadas; o que eu julgava ser útil na terapia, mas não numa consulta médica.
Com toda sua condescendência, ele me olha e fala:
O que você precisa é parar de precisar.
Conversamos inúmeras outras coisas, mas esta me pegou de jeito e influenciou diretamente este texto. Naquele momento, o da consulta, eu estava pensando que eu precisava escrever logo a newsletter da semana seguinte porque ela precisava estar pronta até o domingo e precisava chegar na caixa dos leitores na segunda-feira. Me dei conta das mil regras e cobranças que crio para mim, mesmo quando sou minha própria chefe. Como se vocês, uns queridos, fossem ficar bravos caso eu enviasse o e-mail em um dia diferente ocasionalmente.
O controle passa longe
Março foi um turbilhão por aqui. Ao virmos para São Paulo, apesar de não ser só amor aqui (como contei nesta outra news), acreditamos que seria uma estadia longa. Não será. Estamos no meio de mudança de cidade {conto mais em breve}; sabíamos desse movimento há meses, mas achei por bem ir contando aos próximos e soltar a novidade aos poucos. Sou dada a superstição, como já devem ter notado. Bem, o plano, meus caros, riu da minha cara. Na do meu marido, eles sambaram com os dois pés porque, posso afirmar com toda certeza, ele nunca se viu morando onde estamos indo. (risos)
Não é, no entanto, esta mudança - embora a busca por apartamento esteja exaustiva - e nem mesmo o lugar que estamos indo as razões para o meu estresse. É um acúmulo que se formou justamente porque desde 2020, o fatídico ano um da pandemia, digo a mim mesma que preciso me manter no centro. Acreditando que por ter o privilégio de trabalhar com o que gosto, impediria meu cérebro de pifar. Há mais de 10 anos eu decidi ser autônoma, mas só agora dei conta do tamanho da pressão que é conseguir gerar a própria renda. Tenho minha agenda nas mãos e uma conta bancária bem longe do meu domínio.
Não tenho controle algum sobre o quanto minha dedicação vai gerar retorno em forma de dinheiro. Talvez seja um lado que poucos com esse modelo de trabalho falem. Não estou dizendo que vou me tornar CLT amanhã (nada contra até posso algum dia), mas colocando na mesa um ônus que me soava como tolice e não era. Foi por causa dele que ao dobrar uma esquina qualquer, dei de cara com o estresse. Andei com ele pelas ruas enquanto meu corpo era cada vez mais dominado por sua força. Ao perceber sua presença, me culpei por não o ter visto antes - logo eu que estudo sobre isso.
Por outro lado, justamente por estudar sobre saúde mental e comportamento e por me conhecer relativamente bem, marquei a consulta antes do caos se instalar de vez. O controle passa longe das minhas mãos em relação à situações externas, já as internas são por minha conta e risco. Ainda não precisei aderir a medicamentos alopáticos - se precisar, o farei é claro. Aumentei as sessões de terapia, estou refletindo sobre meu "precisar", minha rotina, o que eu quero para mim e meu trabalho, ajustei a alimentação com a nutricionista e começarei a usar alguns fitoterápicos. Neste feriado, concluí algumas coisas que não quero e não topo e que eu achava que queria e topava.
Para se divertir
Na consulta, partilhada em um momento com a do meu marido, o médico perguntou sobre lazer. Ficamos meio mudos. Há tempos a preguiça nos domina e ligamos a televisão para assistir mais um episódio de Friends. Não é exatamente preguiça, é cansaço e é normal em algumas fases da vida. Mas, nos foi recomendado um esforço para sair do ciclo e evitar um estresse maior. Segundo dr Fernando2, o cérebro não consegue separar atividades feitas em ambientes iguais. Por exemplo: estamos trabalhando em casa - os dois, mas ele é híbrido -, resolvendo pendência em casa, comendo em casa, pagando conta em casa (lembra quando a gente tinha de ir ao banco?).
Mesmo que você esteja assistindo um filme engraçado, se também for em casa, não fará um efeito ótimo no cérebro. É bom, mas não o ideal. Ainda mais depois de meses de isolamento pandêmico. Então, não precisa ir numa balada e se obrigar a ser um extrovertido sem ser seu perfil. Um cinema, parque, praia, café na rua e afins já são uma boa pedida. Encontrar amigos que realmente te deixem mais feliz também.
Imagino que muitos por aí estejam na mesma preguiça cansaço, deixo aqui a recomendação médica que foi para nós, mas que serve para todo mundo: faz uma forcinha e vai dar uma volta!
A receita
Não existe fórmula como sabemos todos. Ninguém alcançou sucesso em nenhuma área da vida com um passo a passo recomendado por um livro ou guru ou influencer. Não recebi, portanto, uma dica do que fazer. Pelo contrário. Meu médico me receitou leveza1. Menos protocolos, menos cobranças, menos prisões, menos performance e menos sonhos que sequer são meus. Meu desejo real era conseguir fazer isso com uma resposta do chat GPT. Não vai dar. Para viver leve é preciso um esforço para relaxar - sim, o mundo moderno pede empenho para isso. Esquecer sobre o que nos disseram o que era felicidade, deitar a cabeça no travesseiro, fechar os olhos e sonhar.
Todo dia, tudo igual
No fim das contas, esta newsletter chega até vocês numa segunda-feira, como de costume, mas foi escrita com todo coração no domingo de Páscoa porque senti vontade. Sem pesquisa científica, sem dados, sem referências externas. Apenas a vivência crua de quem está passando pelas intempéries deste mundo cada vez mais turbulento, afinal esta é a descrição aqui:
Observações sobre a complexidade do mundo e do ser com com um pé no chão e outro na esperança
Seguirei a organização destes envios nos dias certinhos porque isso é minha essência, mas quando não der tudo bem (para vocês também?).
1: Condição esta bastante privilegiada. Não passo, sei disso, por muito do estresse de quem depende de uma entrada x de dinheiro para sobreviver. Toda essa minha fala envolve acessos que boa parte do país não tem e eu adoraria que tivesse. Mas, também sei que boa parte da nossa bolha tem esse poder e não usa. Façam uso do que os tornam mais saudáveis de forma responsável e cuidado com os falsos profetas da saúde.
2: Este é o Instagram de dr. Fernando, um médico low profile nessa história de mídia social. Lá tem os contatos úteis e alguns conteúdos. No meu perfil, tem uma live gravada com ele, é essa aqui. Recomendo fortemente sua consulta; ele atende em São Paulo e telemedicina.
Plus: o título de hoje veio de uma música chamada Meu esquema, da banda pernambucana Mundo Livre S/A, para ouvir:
Novidades da Tempo para você
Como falei, os envios seguem todas as segunda-feira. Mas, como tivemos enquete e vocês escolheram o podcast e as dicas em dias diferentes, agora seremos assim! Também prefiro, diga-se de passagem.
Primeira segunda-feira: crônica (Para sentir)
Segunda segunda-feira: ensaio (Para refletir)
Terceira segunda-feira: podcast (Tempo para você Entrevista)
Quarta segunda-feira: dicas do mês (Tempo para arte)
Já planejava diminuir o envio de textos longos por causa de um outro projeto que também conto em breve. Precisarei da energia de criação para conclui-lo. Mas, não se preocupem que já pensei em outras ideias para seguirmos sem prejuízos. Aguardem novidades, assim que eu respirar nessa história de mudança, na assinatura gratuita e na premium. Provavelmente conto tudo no final de abril.
Este mês, talvez não aconteça o podcast pelas mesmas razões. Os mantenho informados.
Uma semana de simplicidade para vocês e para mim.
Beijos
Gabi.
"Para viver leve é preciso um esforço para relaxar -" é isso... amei a receita do dr. Fernando!
Gabi! "tempo para você" é toda essa edição :)
espero que as coisas se desenrolem suavemente. boa sorte no projeto!