Tempo para você
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Tempo para você: voar voar
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Tempo para você: voar voar

Converso com Luísa Ferreira, criadora do Janelas Abertas, sobre liberdade, viagem e escolhas

O Instagram do Janelas Abertas está aqui. Para mais informações, acesse o site: https://linktr.ee/janelasabertas 

Luísa cita o curso e os textos do escritor Alex de Castro, confira no site dele aqui.

ps: o comecinho da conversa tem um barulhinho de fundo, segue o baile que se resolve.

{Este episódio não foi patrocinado e nem tem fins publicitários.}

Edição e direção de som: Rodolpho Almeida*

Trilha sonora original: Rodolpho Almeida*

*Também conhecido como marido. Obrigada, meu amor.


1.O que os homens falam: quando mudei de cidade/estado, em 2021, uma das coisas que mais me fizeram falta foi conversar com as amigas. Temos, hoje em dia, a sorte do Whatsapp e da vídeo chamada na palma da mão, e isso é ótimo e ajuda. Mas, sentia saudades de combinar um happy hour à toa, uma volta no shopping para comprar algo que estava a procura seguida de sentar numa mesa e pedir um café. Demorou para isso acontecer no novo lar; agora que tenho mais essas possibilidades, a vida ganhou mais brilho. Nós, mulheres, nos encontramos, costumeiramente, para falar e essa troca nos dá repertório emocional, consciência de onde estamos e aprendemos as mil facetas que podem existir por aí através da história do outro.

Já os homens… Andam falando mais, frequentando consultórios terapêuticos, lendo textos com confissões e tons emotivos {alguns estão aqui, inclusive; adoro a presença de vocês}. Ainda assim, o vocabulário é enxuto. Se encontram com os amigos para atividades esportivas, trabalhos ou tomar um drink/cerveja. Será que na hora do álcool, deixam fluir os sentimentos? Não estou retratando aqui a mesa de bar com aquela velha contação de história. Me pergunto sobre o momento da partilha sensível e vulnerável.

Partilhe aqui, se puder!

Carregada por essa curiosidade, cliquei no play do filme O que os homens falam (2012), com direção do espanhol Cesc Gay e roteiro dele com o conterrâneo Tomàs Aragay. 

Foto: Guia da semana

O comentário do meu marido no final foi: gostei, mas não acho que chegou em lugar algum. Respondi que talvez fosse exatamente isso que desejavam passar. Então, não esperem uma jornada de herói, uma solução, um caminho de luz. Acredito que porque na vida real e prática, o sexo masculino ainda esteja tentando encontrar este lugar. Trata-se de um julgamento meu, obviamente. É o que observo e ao que parece o filme também.

A história, retratada na Espanha, usa o formato mini crônica para contar os conflitos de identidade de oito homens que passam pela meia-idade e se conhecem; algumas histórias se entrelaçam. Tudo com uma boa dose de humor e, poderia dizer, quase vingança feminina, mesmo sendo dirigido por um homem. No elenco, o grandioso ator argentino Ricardo Darín faz um dos personagens e é parte de um dos diálogos mais consistentes. 

Foto: Instituto Moreira Sales

Cesc não se utiliza de clichês e põe à mostra exatamente as dificuldades dos homens de falarem, a falta de repertório, as perdas que isso impõe e, por vezes, as violências. Porque quem não sabe dialogar, frequentemente escoa suas angústias na força de suas mãos.

Nada justifica uma agressão, nem física nem psicológica, mas precisamos olhar para onde elas se originam. A cultura machista que impõe poder ao homem e ao mesmo tempo silencia os sentimentos masculinos torna o peito uma panela de pressão preste a explodir. Sempre explode em terceiros, geralmente mulheres e crianças. A cura disso é terapia e mudança na educação dos meninos, tanto nas escolas quanto nas famílias.

A vida e o filme estão em fase crucial, refletir e questionar sobre o que sentem e pensam os homens. Quanto tempo será que vamos ter de esperar para as respostas concretas não só aparecerem como serem postas em prática?

Disponível para alugar nos streamings: Apple +, Google Play 

2.Esperando Bojangles: nas primeiras páginas desta leitura me senti inserida no cenário do filme Meia noite em Paris (2011), dirigido por Woody Allen, ou no livro que o inspirou, Paris é uma festa (1964), do escritor Ernest Hemingway. Roupas escandalosas, festas regadas a espumante naquelas taças mais antigas que parecem uma banheirinha, pessoas em total êxtase. Só não foi mais insano porque o narrador de Esperando Bojangles (2014) é uma criança e é filho dos donos do baile.

Imagem: Dois Pontos

Como em uma música, o livro começa em tom baixo e vai nos conquistando através de historietas sobre a família maluquete do menino, suas casas (uma na França e outra na Espanha) e o bicho de estimação deles - uma ave pra lá de excêntrica - chamado Madame Supérflua. Tão envolvidos nessa vida hedônica, o casal vive a dançar a música Bojangles, da Nina Simone, e favorita da mãe, e ignorar as cartas e qualquer sinal da vida prática. Um belo dia, um senhor bate à porta e os avisa que suas dívidas com impostos podem implicar a perda da moradia.

Neste momento, o tom da música/leitura sobe e entra em cena a inteireza desses personagens e o que realmente sentem. Numa narração sensível, com pequenas inserções da versão do pai, acompanhamos os delírios, sonhos e extravagâncias dessa mulher encantadora envolvida em martírios mentais dolorosos. 

Que fosse a do cérebro de Mamãe ou a dos móveis do apartamento, essas mudanças não deixaram ninguém contente. (trecho do livro)

Não tecerei mais comentários para não dar spoilers, mas os garanto que é um dos livros mais bonitos que li sobre amor, família, transtornos mentais e as dores e delícias de viver nesse mundo tão cheio de caixinhas. Me emocionei muito. 

O francês Olivier Bourdeaut escreveu Esperando Bojangles (2014) enquanto passava uma temporada na casa de sua família, no litoral espanhol, depois de uma sucessão de "fracassos" profissionais na vida adulta. O livro se tornou um sucesso na França desde o lançamento; eu só o li recentemente - confesso que não dei muita bola antes - para o clube do livro Chicas, onde participo como mera cidadã comum. Lá é meu lazer e escape.

A publicação saiu no Brasil pela Editora Autêntica Contemporânea e com a tradução de Rosa Freire Aguiar. Compre aqui. Existe também uma adaptação de Esperando Bojangles para filme com mesmo nome (2022), disponível para alugar nas plataformas Google Play, Apple +, Amazon Prime. Foi dirigido por Régis Roinsard e é elogiadíssimo.

Importante: o livro e o filme tem gatilhos relacionados a transtornos mentais severos e internações psiquiátricas; Se você está em fase sensível ou em crise, não recomendo no momento.

{As dicas não são patrocinadas e nem tem fins publicitários.}


“Para onde vão os trens, meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também para lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem, tu não te moves de ti.”

Hilda Hilst


Uma semana com repertório na linguagem emocional para nós.

Beijos,

Gabi.

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Gabi Albuquerque