Se você for da minha faixa etária e curte ouvir todo tipo de música saberá que este subtítulo é o trecho de um pagode e se completa assim: mais um ano se passou e nem sequer ouvi falar seu nome, a lua e eu… O nome é “A lua e eu” e é do Casseano, mas o Grupo Pixote cantou muito por um período. Tem uma versão mais recente com Seu Jorge e Cláudio Zoli, uma delicinha. Ouça aqui. Começando com flashback informativo, é sinal auspicioso.
Meu cérebro começou a fazer um balanço do ano. Naturalmente. É o último mês e é assim que funcionamos, fechando ciclos. Nessa análise, senti o impacto de um semestre voltado para gerar uma vida. É um trabalho bonito, gigante e cansativo. Sinto certo orgulho de mim, não nego. Mesmo sentindo saudades de ser uma só. Em relação ao trabalho, a sensação é de um grande buraco. Não produzi muito, não pesquisei muito, não criei muito. Segui o que dava para fazer. O resultado não é de todo ruim, mas dói porque sei das minhas ausências. Passei uma semana irritada, sem saber ao certo o porquê. Era isso. Era essa dor. Depois de capturá-la ficou até mais fácil lidar com a situação. Ainda não sei muito sobre um outro modo de fazer. Sigo na ambiguidade de estar feliz e perdida na mesma medida.
Passei muito tempo tentando me encontrar. Mudava de carreira. Mudava as possíveis entregas da news. Mudava como produzia conteúdo no Instagram. Buscava saber mais de mim através do meu trabalho. Mais do que isso, através do resultado desta área tão específica e tão grande nos nossos tempos. Eu me media ao invés de me enxergar. Nessa medida, nunca estava bem, nunca era suficiente. Neste ano, mudei. E não foi a gravidez que trouxe essa visão. Na verdade, foi quando consegui procurar por mim por outros caminhos que abri espaço para ter um bebê. É piegas, mas me sentir inteira independente da maternidade e da minha carreira foi meu grande salto em 2024. Me pareceu uma observação valiosa para trazer neste fechamento. Sei que ninguém vai simplesmente mudar a perspectiva só com este parágrafo. Espero apenas acalentar quem está no caminho. Quem está se machucando para caber em algum lugar. Às vezes é só uma questão de expandir o olhar, aceitar seus limites, aprimorar arestas. E quero dizer também que se sentir completa é transitório e não é. Algumas partes se acalmam. Outras seguem bagunçando e causando inseguranças. A vida é feita de pedacinhos. Ter alguns deles mais lapidados me deixou menos ansiosa para chegar em um lugar que nem é meu.
Tanta coisa boa para se viver nesse mundo. Considerando os que têm casa, comida e roupa para lavar, é muita opção mesmo. Comer algo gostoso, tomar sol, abraçar um amigo, assistir um filme, andar na rua, ler um livro, olhar o céu, sexo (nesse caso, é de bom tom escolher com quem para ser de fato prazeroso), se apaixonar, fazer uma limpeza no armário, ajudar uma pessoa ou um cachorro. Ainda assim, os chatos preferem ser chatos usando seus minutos para tagarelar por aí um monte de chatices. Quando alguém tenta tirar minha paz, penso se essa pessoa está sendo feliz. Não aquela felicidade rasa e idiota, mas a do gosto pelo viver. Não sou zen suficiente para apenas enviar boas energias e seguir. Fico brava com muitas sandices alheias, mas ao menos lembro de colocar alguns na caixinha de quem tem tido dias amargos.
Sou contra sair de casa para se hospedar num lugar que tem chuveiro ruim, cama dura, café da manhã meia boca. Incabível pagar para ficar em um lugar aquém da minha própria casa. Preparo minha própria comida com carinho e primor, abro janelas, passo aspirador de pó, escolho produtos com cheirinho bom. O chuveiro… tenho imensa alegria ao adentrar num apartamento alugado que tem banheiro reformado e ducha decente. Se você não tem cabelos, imagine a sensação de tirar um condicionador dos fios numa daquelas torneiras sem força? Descendo meio fio de água? Dá nem para lavar a alma. Graças aos deuses e deusas, meu marido tem as mesmas frescuras. Aliás, frescura é um adjetivo alheio. Nós não vemos nossas próprias exigências dessa forma. Já me hospedei em pousadas medonhas há bons anos, ainda não tinha experiência para prever o caos antes. Mas, a juventude te dá energia para você viver certas situações. Adulta, anos depois, em 2021, já casada, decidimos fugir da cidade e ir a uma pousada a qual já havíamos estado. A praia em frente era ótima. O lugar era bem simples, mas era limpo e a comida era boa. Era! Ficamos só a noite em que chegamos. Hahaha o quarto estava cheio de aranha. Ninguém usava máscara (era pandemia!). O chuveiro - sempre ele - capenga. Foi horrível. Nesse dia pensei pela primeira vez: por que ir para um lugar sem o esmero da minha casa e ainda pagar? Entendo os desapegados, aventureiros, focados no destino. Sou taurina demais para isso. Esta lição é de 2021/22, mas me veio à cabeça neste último semestre quando cogitei fazer uma viagem em novembro (não fiz por causa dos enjoos). Pode ser útil para quem me lê avaliar seus próprios limites nesta temporada de pausas e férias.
A mesma pessoa que faz listas de livros e compras de fim de ano - vulgo eu - também é a que lava a borracha da máquina lava e seca com esponja e truques aprendidos no Pinterest. A vida não é só glamour, bom lembrar. Tenho pensado em como encaixar essas tantas partes de um só eu na escrita e nos projetos. Enquanto isso, para quem interessar, uso esse método aqui para limpeza, só dispenso o uso do creme dental.
Falar em Pinterest, tenho uma pasta lá com salvos natalinos. Há registros diversos que vão desde decoração, receita de drinks com ou sem álcool até listas de filmes e comidinhas. Está aqui.
Estou indignada com essa moda das roupas de crochê/tricô sem tecido de cobertura embaixo. Nada contra transparências para quem quiser, mas precisa ser em todas as peças? E como faz para sentar de modo confortável em ambientes públicos? Fiquei pensando nas bundas femininas expostas em cadeiras e poltronas já frequentadas por todo tipo de gente em pleno verão. É cada ideia! Óbvio que me rendi de qualquer forma, não tive escolha, é o tecido mais prático para grávidas. Para usar, adquiri shorts de baixo para usar como um forro improvisado. No setor peças íntimas de algodão, não tem marca melhor que Intimissimi. Eu sei, é caríssima. Mas…
No envio dos melhores do ano de 2024 comentei sobre presentear as pessoas que fizeram parte do nosso ano. Agora já entreguei a todos suas lembrancinhas e atesto mais uma vez que é muito gostoso compartilhar alegria. Os olhos brilham de todos os lados.
Isso me lembra dos encontros não realizados. Gostaria de ter conseguido celebrar o final de ano com mais amigos, marcar cafés, abraços e afins. Não deu. Minha energia está com menos potência e precisei priorizar. Serviu para refletir se preciso mesmo fazer o tanto que fazia antes. Certamente, não.
De qualquer forma, chego estou exausta neste último dia na função antes de embarcar para Recife. Foram exames e consultas e mil tarefas para cumprir. No dia de ultrassom da gravidez sempre sinto o coração acelerado, fico tensa pensando em qual imagem iremos encontrar. Já na sala com gel na barriga, ouço o coração dela e tudo passa. É surreal o que se vive quando se faz outro ser humano. Um vídeo te mostra o absurdo - no bom sentido - de ter uma mini pessoa com os ossos de uma coluna formados, olhos, estômago, pernas inquietas dentro de você. É mágico, inalcançável, confuso. Um dia quem sabe consigo por tudo isso em palavras organizadas ou desorganizadas mesmo.
Dois textos que enviei este ano e foram bem recebidos pelo público e os temas são bons para esta época do ano:
Entre tarefas e correrias desesperadas de final de ano, separo uns minutos para deitar e respirar ouvindo algo bonito. Não se deixar levar pela pressa é o lema, vocês sabem. Então, vou me encerrando, nesta penúltima nota, com um vídeo de Black Pumas e Eddie Vedder cantando/tocando juntos a música “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay”, de Otis Redding. A música é linda e leva a gente a fechar os olhos e até dar aquela choradinha às vezes necessária. Espero que te sirva.
Por último, gosto de deixar umas perguntas de agradecimento para o ano. Todo dezembro, após o Natal, separo um momento para rever o que vivi, escrever no caderno ou planner as respostas encontradas e aí sim começar a pensar no futuro. Esta reflexão pode ser acompanhada de um bom vinho ou chá, da sua parceira/parceiro de vida, comidinhas, playlist, vela acesa… enfim, cria seu clima. É uma delícia e ajuda muito na nossa saúde mental: agradecer, ajustar rotas, sonhar.
No mais, os deixo com um enorme OBRIGADA por estarem aqui, curtirem, apoiarem, incentivarem e torcerem em variadas fases da minha vida. Foi um ano e tanto por aqui e as próximas semanas serão para organizar a cabeça, as ideias, o corpo. Farei um recesso de muito descanso e afeto até meados de janeiro. Quando você ler isso aqui já estarei alimentada com meus quitutes e abraçada por um monte de gente que amo.
Voltaremos com uma edição no dia 20/01/25. Desejo um novo ano de sossego, bons encontros, alegria, saúde, gentilezas e, muito importante, coragem e resiliência para seguir em frente nos momentos dos contrastes desta vida intensa do século XXI.
Um beijo,
Gabi
"Eu me media ao invés de me enxergar." ressoou bem aqui ❤️
Eu li o título e completei com "estou ficando velho e acabado". Hahahaha
Gabi, Feliz Natal e Feliz Ano Novo.
Bom descanso.
Um beijo.