#1 Querido trabalho,
O diário de uma mulher adulta em busca da realização do seu ofício entre gargalhadas e lágrimas, alguém se identifica?
Este post é da nova série de publicações da news. Os detalhes você entende aqui. E dia 29 chega minha seleção “tempo para arte” de junho.
Querido trabalho,
não sei ao certo se devo te chamar assim. Apesar de pesquisar, estudar e me dedicar horas ao seu acontecimento e aperfeiçoamento, para mim você ainda não é exatamente o que chamaria de trabalho. Esses dias estou irritada, achei que era TPM, depois cogitei uma gripe que poderia ter pego com meu marido, mas mesmo com as emoções profundas e confusas tal qual o mini submarino que explodiu em busca dos restos do Titanic, escapei do vírus e a TPM oficialmente passou. Não tenho nada mais a culpar, exceto sua ausência na forma que idealizei.
Semana passada, conversando com uma amiga psicanalista ouvi muitas vezes a palavra "fantasiei", no dia nem pensei em você. Hoje, finalmente, associei tudo. Fantasiei você por muitos anos. Para isso, precisei acreditar em muitas falácias e abrir mão de muitos consumos. Agora, isso já me pesa. Deve ser isso a irritação. Uma sensação de ter ficado para trás, de ser uma adulta que não aconteceu como a fantasia criada por mim mesma e talvez pelos outros.
Respiro fundo. Me concentro. Lembro que estou em movimento, das conversas que tenho tido, do acolhimento recebido, das ideias que me vieram. Decido usar a energia para ler mais, estudar mais, cozinhar mais. No jantar de agora pouco inventei um yakissoba que ficou salgado porque esqueci que shoyo já tem sal. Comemos mesmo assim, mas eu não estava satisfeita com o resultado. Assim como não fico com você. Talvez com muitas coisas.
Nesta mesma semana, meu terapeuta não conseguiu me atender no horário habitual e me avisou da tentativa de encaixe. Eu, pleníssima, disse que tudo bem, poderia passar a semana sem porque estava estável. Ele não deve ter entendido nada, mas me respeitou como bom profissional. Me perguntei se estaria irritada se não tivesse decidido tocar o barco sozinha. Por outro lado, é bom entrar em contato com algumas dores e incoerências. Não dá para anestesiar tudo, experiência própria. A coisa vem depois sem bater na porta.