Tempo para você

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Um almoço quase estrelado

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E a solidão dos nossos tempos nas refeições

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Gabi Albuquerque
jul 15, 2024
∙ Pago
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Um almoço quase estrelado
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A esta altura faz mais de um mês que estou obcecada por uma refeição. Trata-se de um almoço. Aconteceu em um restaurante cujo nome estava na lista dos "quase com estrela" ou "por pouco não ganhou". Sequer sei os critérios. A ida não foi ideia minha e isso não é um julgamento moral de quem escolheu. É apenas uma demarcação das diferenças e nada mais, não tenho as estrelas como guia nas minhas decisões alimentares. Portanto, simplesmente segui o grupo meio às cegas. 

O lugar era escuro, as cadeiras de madeira elegante, mas sem nenhuma almofadinha, garrafas de vinho vazias para todos os lados em prateleiras, mesa com tamanho não ideal para a quantidade de pessoas. No banheiro, uma luz pior do que aquela que apaga repentinamente enquanto você faz xixi. Era vermelha e instalada na parte baixa do cubículo deixando o clima meio cabaré. Achei ruim, mas pode ser útil para quem foge do salão e se agarra lá dentro (como essa aqui). O staff atendia a mesa ora blasè ora mal humorado. A comida estava ótima e bem feita. Dessas carnes difíceis de esquecer e eu nem amo carne vermelha. 

uma plaquinha Michelin aleatória

Por que esse pacote me incomodou tanto? Estaria sendo implicante com a tal lista? Me perguntei se essa sensação de desconforto e até de vazio seria o objetivo dos grandes chefs. Logo desisti da hipótese. Não faz sentido. Assim como não é factível a ideia de que os grandes chefs estão apenas atrás dos balcões desses estabelecimentos de decoração duvidosa e com ares de post de Instagram.

Quem cozinha, de verdade, não tem como fim uma foto bonita nas redes sociais e quem come, também de verdade, não busca na mesa desconforto para se sentir mais chique. Não é que não precise ser elegante ou bonito ou bem arrumado. Minha "implicância" é com a tendência, seja na gastronomia ou em outros mercados, de fazer o cliente se sentir pequeno para que seu produto se torne gigante. Sabe como é?

Comida e glamour 

A fim de encontrar uma resposta para minha obsessão aparentemente sem sentido, afinal era só um almoço, decidi assistir um documentário há muito na minha lista. Comecei Roadrunner: a film about Anthony Bourdain (2021) pensando em comida e gastronomia; Bourdain era chef e um aventureiro apresentador de programas de viagens com roteiros baseados em restaurantes e comidas de rua. Em menos de meia hora, já entendi que a história iria além.

Roadrunner: a film about Anthony Bourdain . Foto: Buzzfeed

Se você não sabe, Tony, como os amigos o chamavam, publicou um livro chamado Kitchen Confidential, em 2000, sobre os bastidores da cozinha gourmet americana e este se tornou um bestseller. Em poucos meses, o até então cozinheiro escondido atrás dos balcões da cozinha, se torna uma celebridade e com isso, passa a dar entrevistas em muitos programas famosos, teve até o da Oprah Winfrey. Embarcando no sucesso, larga a dolmã, aquela roupa branca de chef, e aceita trabalhar gravando uma série própria para a tv e escrevendo outros livros. Isso significa uma vida com 80 a 90% do ano na estrada e longe de amigos, casamento e afetos. 

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