Esta edição se trata de um aviso. Como bem me conheço, há chances de se tornar um texto mais longo do que se precisa para contar alguma coisa.
Desde o Carnaval uma dúvida vinha me perseguindo: devo ou não devo fazer uma pausa? Dessa vez real, para mergulhar nos meus livros, filmes, nas ruas do meu bairro e dos vizinhos, tomar um sol sem achar que preciso sair correndo. Um tempo de ócio criativo para alimentar meu espírito. O desejo estava latente, como se nota. A pergunta era sobre necessidade.
Em dezembro, no recesso clássico de final de ano, me retirei e só voltei em meados de janeiro. Tanto daqui, a newsletter, quanto de outros projetos. Precisava respirar. Esqueci, no entanto, que agora sou forasteira e quando faço pausas nas quais estou indo visitar minhas origens, não vou encontrar exatamente um tempo meu. É um reencontro comigo, mas não para mim. Lá, sinto sabor de saudades na comida, abraço amigos que me conhecem de cabo a rabo, sinto estranheza em algumas coisas das quais esqueci ou já desacostumei, me sento na mesa da família o que abastece e exige na mesma medida. Voltei com alegria e cuscuz na bagagem, mas com o corpo clamando por descanso ainda mais depois de passarmos 10 dias indo dormir meia-noite e acordando cedo, algo fora da nossa rotina.
Conto tudo isso não para justificar nada e sim para trazer a pauta do tempo para a mesa. Quando questionei a necessidade da pausa foi porque sou uma escritora, uma comunicadora e professora. Tudo de forma independente. Por isso, é bom checar se não é uma fuga da página em branco, sabe? Também é plausível porque se há vontade de fugir tem uma razão. Eu sou o tipo de ser humano, e não só no campo profissional, que gosta de saber seus porquês. Investiguei. Enquanto procurava respostas, meu corpo, minha criatividade, meu eu inteiro foi me respondendo.
Uma vez, há alguns anos, em um momento sofrido qualquer, estava reclamando para uma amiga: meu corpo poderia ser menos sensível, tudo precisa doer? Ela respondeu: pelo menos ele te avisa rápido, né? No meu caso, quando vejo já é uma doença. Naquele dia comecei a tentar ver as coisas de outra forma. E aí, agora, na dúvida se era hora de pausar ou não, agradeci por ter sinais físicos e mentais instantâneos, por conseguir "conversar" com meu ser e escolher em paz.
A minha autoinvestigação inclui leituras e outras artes, como já devo ter falado mil vezes aqui, e nesse processo lembrei da importância dos ciclos e aprendi, de forma mais substancial, que precisamos, especialmente quem trabalha com arte, de fases mais para dentro para dar conta das fases para fora. Quero ser lida, é claro, mas para entregar um bom material, preciso ler em mim o que devo por para fora. Inclusive o nome desta newsletter impulsiona isso: tempo para você.
Sempre valorizei os meus momentos, mas nunca tinha pensado de forma tão literal no ciclo para mim como necessário. É ótimo ter uma hora ou minutos por dia para si, ajuda bastante. A depender da vida de cada um, vai ser bom uns recessos mais robustos. Diria que ninguém deve estar escapando dessa necessidade.
Defendo, portanto, usar uns dias das férias para ficar em paz. Nada de viagem, visitas e afins. Pode ter uma ida para fora da sua cidade desde que sem intenção de turistar, um lugarzinho conhecido e pequeno. Essa pausa será para respirar. Apenas isso. Se você for de livro, ler, se for de filme, conferir. O principal: fazer nada. Sem rede social. Sem checar a vida de ninguém.
E é isso que vou fazer em março. Sumir.
Voltarei depois. Talvez com ideias novas, novos formatos para nossa troca aqui, quem sabe? Ou talvez fique como está pois já gosto. Vou me reabastecer, ter um tempo inteiro para mim. Enquanto isso, programei as entregas das semanas que virão com reenvios de textos dos quais amei escrever, alguns do comecinho da Tempo para você, quando muitos de vocês não estavam aqui pois hoje temos mais de 10x os leitores de agosto de 2022. Vai ser um ótimo flashback, prometo.
Lembrando: a entrega semanal é para os assinantes premium e quinzenal para os gratuitos.
Em abril volto com notícias.
Um beijo,
Gabi
Adorei a reflexão, me vi nessa necessidade de momentos pra dentro pra poder sustentar os momentos pra fora… pausas são fundamentais e necessárias! Bom repouso!
Uma pausa é sempre reconfortante e nos ajuda a realinhar a vida no eixo. Bom descanso!