Não sei bem porque fui naquele laboratório. Digo a unidade, não a razão da ida. Não era um lugar comum para mim. Talvez tenha sido indicação da médica. O lugar era feio. Tinha as cores azul claro e branco nas paredes e nos móveis, como de costume nesses ambientes, mas em tons tristes. Fui lá para colher um material da minha região íntima. O objetivo era saber se eu estava com candidíase de novo. Uso a expressão “de novo” porque estava repetindo este exame por um número do qual já tinha perdido as contas, com certeza já passava de 15.
Na sala fechada, meus pés estavam nos apoios típicos de macas ginecológicas quando uma enfermeira nada simpática começou a introduzir o espéculo - objeto que ajuda a abrir o canal para a coleta - e eu chorei de dor. Ao acessar a memória, choro de novo. A mulher começou a reclamar, disse que não era para doer tanto, eu pedi para parar. Ela colheu o material da vulva e me avisou para repassar a seguinte informação à ginecologista: a coleta não foi eficiente e por isso não há garantia de um resultado de exame fiel à realidade.
Me vesti e, em pânico, liguei para meu marido, na época namorado, e por sorte do destino ele estava a caminho do trabalho passando exatamente por aquela região. Me buscou. Eu falei: devo estar com algo muito grave.
Cheguei em casa e liguei para agendar o retorno da consulta médica. Lá iria eu mais uma vez tentar entender o porquê de estar sofrendo tanto e das pessoas, profissionais de saúde especialmente, tratarem como um drama qualquer. Fui mais uma vítima de um sistema de saúde, mesmo no privado, voltado a tratar nossos corpos como meros pedaços de carne.
A ginecologista tinha sido indicada por minha psicóloga depois dos meus inúmeros relatos de consultas frustradas nas sessões. Ela precisou fazer uma pesquisa consistente para chegar naquele nome. Aparentemente, não era fácil encontrar alguém realmente ouvindo sua dor e te apoiando. No momento daquele exame, eu já tinha passado pelo perrengue de marcar a primeira ida. Precisei implorar uma vaga rápida à secretária por não aguentar mais aquele inferno.
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