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Há alguns bons anos, em uma sessão de terapia, relatei uma dificuldade de assistir filmes de comédia. Na verdade, tinha problemas com piadas no geral. Olhava para este cenário como uma grande perda de tempo. Às vezes era mesmo uma porcaria, ainda mais naquela época. Foi no auge do humorista de stand up e eu tinha síncopes com os temas da maior parte deles.
O riso se tornou um dilema porque meu namorado, hoje marido, tem apreço pelas piadas. Não satisfeito em rir das alheias, ele mesmo faz algumas ao longo do dia. Isso gerou um conflito, afinal eu não só achava uma chatice como me irritava profundamente. Depois de muitos desencontros, falei para a terapeuta: parece que não sei rir.
Na análise, chegamos a conclusão - ou eu fui obrigada a chegar - que de fato tinha pouca abertura no meu ser para o riso e a bobagem. Os meus critérios tinham o seu valor, só não fazia sentido me travar para algo que poderia trazer leveza para o meu dia. Aos poucos fui me abrindo e descobrindo a risadagem sem querer dar sentido a tudo, até as piadas. Ele também foi entendendo a minha seleção e chegamos em um consenso.
Para a minha felicidade, essa angústia foi questionada anos atrás. Se conseguia escolher as obras as quais iria consumir em estilos variados, por que só as de humor me irritavam? Por que eu tratava a comédia como algo sem valor?
Exceto pelas piadas ruins com temas tenebrosos - estamos bem melhor nisso atualmente -, não temos muitas justificativas para ignorar as partes bobas da vida e da arte. Minha relutância em rir, acredito, vinha de uma cultura de maturidade feminina. Fui uma menina prodígio nesta matéria, como uma boa irmã mais velha. Era uma mini adulta e achava isso o máximo.
No livro Homem não chora, mulher não ri (2013), a antropóloga Mirian Goldenberg traz alguns dados que comprovam minha teoria. "A mulher não ri tanto quanto gostaria pela necessidade que tem de mostrar que é séria, responsável e competente", explica. Alguns parágrafos depois desta afirmação, Mirian reforça a existência de uma certa inveja feminina sobre a diversão masculina. Passaram-se dez anos desde a publicação e enxergo mudanças notáveis sobre este sentimento; estamos mais soltas e mais livres.
Por outro lado, seguimos sobrecarregadas e estressadas com tantas funções, mesmo em meios mais progressistas. Sobra pouco espaço para a piada. Nos momentos em que poderíamos rir da bobagem, a reação inicial é repelir porque isso já foi instalado no nosso saber emocional. Especialmente, quando a provocação vem de um homem. Por essas e outras é tão importante o encontro com as amigas e ter sua roda de conversa. Nessas horas cabe relaxar o corpo e rir até doer a mandíbula. Já viveu isso? Recomendo.