O que é arte, afinal? Fiquei pensando nessa pergunta, na verdade na resposta dela, quando revi maio para encontrar as dicas que traria hoje aqui. A ideia é fazer um apanhado do que me arrebatou e contar para vocês mensalmente. Gosto disso porque para mim, arte cura. Ou ao menos ajuda a dar nome a algumas bagunças e organizações dentro da gente.
Se esta é a expectativa e o nome da seção é "tempo para arte", as sugestões devem ser artísticas. Em maio, com a mudança de casa/estado, não consegui muito tempo para livros e filmes, exceto os de trabalho. Deu até uma tristeza e cheguei a pensar que foi um mês cabisbaixo e que eu não teria muito a partilhar por aqui.
E foi aí que fui pega pela pergunta do início do texto. No flashback de maio, lembrei que fiz uma aula experimental de yoga que me fez suar por todos os poros e a professora conduziu meus movimentos de acordo com a minha energia daquele momento. Foi artístico para mim a sua competência para conduzir a dança das posturas respeitando meu corpo e de outras alunas. Será mesmo que não tive tanta coisa de arte nesse meio tempo? Ou estou tentando colocar o artístico em caixas? Ou é o mundo que está?
Perguntei ao Google o que é arte e ele me respondeu:
Arte pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas variadas combinações.
Gostei de ver a arquitetura e a escrita no meio dessa definição sem ser traduzido como "literatura" ou "construções históricas", por exemplo. Quando deixo livre como está no Google, considero que se uma pessoa escreve, ela está fazendo arte; seja em um diário, uma carta ou um romance publicado.
Perguntei também ao ChatGPT, nosso novo cérebro artificial. A resposta dele foi mais caprichada:
Arte é uma forma de expressão criativa que envolve a produção de obras que buscam transmitir ideias, emoções, conceitos ou experiências estéticas para um público. A definição exata de arte pode variar de acordo com a perspectiva cultural, filosófica e histórica, e diferentes formas de arte são valorizadas em diferentes contextos.
A arte pode assumir uma variedade de formas, como pintura, escultura, música, dança, teatro, cinema, literatura, arquitetura, fotografia, design, entre outras. Além disso, a arte contemporânea também inclui formas menos tradicionais, como arte conceitual, instalações, arte digital e performance.
O critério principal para algo ser considerado arte geralmente envolve a intenção do artista em criar uma obra significativa e a apreciação estética ou emocional que ela desperta no espectador. A arte muitas vezes desafia as convenções, provoca reflexões, estimula a criatividade e proporciona diferentes perspectivas sobre o mundo e a condição humana.
Achei a resposta bem artística. (risos) Se vale a intenção do artista, acredito que a aula de yoga entra na lista de arte porque para ofertá-la, definitivamente a professora (o) precisa estar presente e provocar apreciação na aluna (o). Provavelmente nem toda aula, assim como nem toda peça de teatro, terá esse pano de fundo. Cabe a nós identificar o que nos toca como arte.
O que me leva a refletir que talvez a resposta mesmo não seja nem do GPT e nem do Google e sim nossa. O que é arte para você? Eu já me senti diante de algo artístico em restaurantes, quando me trouxeram à mesa um prato montado de forma estratégica, também já vivi isso na casa de amigos que fazem mesas e cozinham com talentos invejáveis. E a natureza? É arte? Fico embasbacada com certas paisagens.
Cada um tem sua fé e eu sei que os fenômenos geológicos e geográficos explicam cordilheiras, falésias e o mar. Mas, quando eu olho para essas obras, não deixo de pensar no divino. Nas forças maiores. A gente faz algumas fotografias quando está diante de uma beleza extrema e quando vemos a imagem, falamos: parece um quadro. O que estamos querendo dizer com isso? Que a paisagem é artística? Na minha linguagem - outra arte, por sinal - é sinônimo de que a natureza também é arte.
Então, tempo para arte aqui nesta newsletter será para apreciar o que me tocou como arte. O que me pareceu intencionalmente provocador, reflexivo, emocionante.
A aula de yoga citada fica como sugestão também. Experimentem! Pode ser outro movimento de seu interesse, como dança, vôlei, natação, remo…
Livro Paixão simples: Annie Ernaux, a autora do livro, tem sido minha obsessão literária junto com Natalia Ginzburg e Joan Didion. Mas, a francesa me pega mais porque ela escreve não ficção numa linguagem ficcional de um jeito brilhante. Para completar não é sobre os outros, o país ou qualquer coisa social, é contando a própria vida. Com tamanho talento, é claro que ela faz com que as partes se misturem e no pano de fundo tem também muito da França, do feminismo, do amor e a gente termina a leitura se sentindo tão exposto quanto ela na escrita. Um deleite. Li O jovem (2022) por causa do nosso clube de maio e emendei com Paixão simples porque os dois títulos se conversam (mera desculpa para ler mais um). Neste último, Ernaux nos entrega uma característica da qual nenhum ser humano escapa: a desordem mental que a paixão provoca. Uma mulher independente, livre, cheia de ideias e vida, se rende a velha situação de esperar o telefone tocar e ouvir a voz do cara do outro lado dizendo: posso te ver agora. E ela sai correndo louca para se arrumar. Uma intelectual nesse papel em um livro próprio é disruptivo e belíssimo. Fácil e rápido de ler, duvido você não se identificar com algum trecho e a história não te acompanhar por um tempo.
Ouvi alguns episódios de podcast estes dias que adorei. O "Estamos bem?" entrevistou Marina Smith, influencer e blogger de muitos e muitos anos atrás, literalmente quando tudo era mato, sobre introspecção e apreço por ficar em casa. Uma boa pedida para pensar sobre diversão fora do óbvio. O "Para não passar em branco" teve papo com a Luanda Vieira, jornalista, influencer, foi a primeira editora negra na equipe da Vogue, sobre burnout, carreira e diversidade. É sempre inspirador ouvir Luanda. O mesmo podcast conversou com Lu Ferreira, influencer, youtuber e também blogger de tempos antigos, sobre bem estar, maternidade e estilo de vida. É uma das pessoas midiáticas mais no pé no chão do mercado, o que faz seu conteúdo ser de fato útil.
Fui dar uma volta na praia e me deparei com essas cenas. Já que natureza pode ser quadro, aprecie. E não é porque estou no Rio de Janeiro, considerada uma das cidades mais bonitas do mundo; sou dessas de norte a sul. Porque há beleza em todas as partes mesmo, treine seu olhar. :)
Vai ter FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) em novembro. Preparem as malas e se organizem; sempre bom reservar antecipadamente para conseguir preços mais amigos. Quem vou encontrar por lá? Será minha primeira vez na festa.
A coluna do escritor best-seller Itamar Vieira Jr. com o título "Vini Jr. ensina que devemos erguer a cabeça e ir até o fim contra racismo", na Folha de SP, me deixou engasgada. Este trecho aqui: "Certa vez recebi um insulto racista de um professor branco que, incomodado com minhas perguntas, recordou que eu tinha "os dois pés na senzala". Senti uma dor grande e me calei, até mesmo porque meus colegas pardos riram da ofensa". Me resta cantar… "erga essa cabeça, bate o pé e vai na fé…"
Por hoje é só! Obrigada pela paciência nesse mês atribulado. Estou em atraso nas leituras de outras newsletters aqui e isso também me tira a sensação de tempo para arte. Agora vai! E aguardem novidades, vou anunciar em junho e em julho completamos um ano de lançamento, então terá uma surpresa. Oba!
Uma semana apaixonante para nós.
Beijo,
Gabi
também estou obcecada pela annie ernaux, cada leitura melhor do que a outra!
amei as dicas, Gabi ❤
Gabi, sou encantada com a forma como traduz o cotidiano de maneira artística. Escrever sobre você e o que acontece por aí nos faz refletir do lado de cá. E eu acredito que pensar ao ler textos como seu também é uma forma de arte :)