Ando ausente. Não, não estou atarefada demais; não é sobre cada ciclo de 24 horas ao longo dos sete dias da semana. É um espaço tempo não palpável que anda me arrancando de planos e projeções e me colocando com os dois pés fincados no chão à força. Vai muito além dos meus quereres. Todos os dias pego o Kindle e penso que vou ler um tanto. Levo ele pela casa, coloco na bolsa para os frequentes momentos que ando de um lado pro outro resolvendo listas e passando calor. Não o uso. Meu cérebro parece estar em operação máxima com seu mínimo, não há espaço para outras coisas. Estou, portanto, meio fora de mim.
Tempo eu tenho. Abro Instagram. Abro Google. Abro WhatsApp. Abro sites de vendas com roupas de bebê ou com peças que podem caber em mim nos próximos meses. Marco exames e vou. Passo raiva com o que está se desenhando para 2025 no mundo. Essas coisas da vida do século XXI. Ou seja, não é só sobre estar grávida. Apesar de ter certeza de que estar nesta condição em um momento de Terra de cabeça pra baixo não facilita muito.
“Quem sou eu nesse período em que a distopia dos livros e filmes de ficção científica virou realidade? Como me mantenho de pé? Como seguir jogando mesmo no time que está perdendo? E mantendo garra suficiente para ajudar a virar o jogo?” São perguntas ainda sem resposta na minha mente.
Apesar dos ganhos e conquistas da Fernanda Torres e do filme Ainda estou aqui, a vida aqui no chão está mais para seleção brasileira em Copa do Mundo descendo ladeira abaixo desde o 7x1. A gente fica felizinho, dança, vibra com o Carnaval e o Oscar e o Globo de Ouro. Eu, particularmente, me alegro com uma pequena animada me dando chutes espetaculares no lado de dentro da barriga. Ao deitar no travesseiro ou ao cruzar com qualquer atravessamento cotidiano que joga na minha cara o machismo e as atrocidades desta pátria já não tão gentil, a angústia me toma.
“Minha filha ainda vai ter de conviver com tantos desafios”, realizo.
Diante dessas questões e de outras nuances da vida íntima, tem me sobrado falta para minha coisinhas; as pequenezas que nos sustentam, sabe? A ausência delas me faz afundar ainda mais. Penso em passar umas semanas sem o Instagram. Me forçar a sair de cena. Não sei se seria possível na fase de comprar um enxoval inteiro porque as lojas hoje estão todas nas redes sociais e a gente não sabe mais tomar decisão sem ver a foto do produto e ler comentários com avaliações. Acho pior ainda ir na loja presencial. Comércio de itens maternos é um buraco sem fundo de custos se não estivermos bem preparados.
Para além disso, já fiz outros detox digitais e sei bem onde termina. Voltamos tímidos e quando se vê já caiu no buraco de novo. Minha ideia é aprender a conviver com as redes sociais de uma maneira mais saudável. Já aceitei que, ao menos na minha realidade autônoma, não há como fugir para as colinas. Talvez umas saídas de cena curtas para descansar o juízo. Não cabe agora, no entanto.

Vai ter de ser na marra. Deve ser assim quando o jogador precisa entrar em campo para mais um jogo com a moral lá embaixo. Ou depois de perder um pênalti. Tem que jogar e seguir. No meu caso - talvez nosso - é usar menos as ferramentas de escapes vazios. Sair do emaranhado do excesso de notícias, das maravilhosas vidas alheias sendo postadas e da ausência da minha. Rezar, escrever, meditar. Mergulhar na arte. Lembrar de sair às ruas. Teatro, cinema, praia, livrarias, sentar em um café e ver gente real e sem filtro. Esquecer o celular nas tardes de domingo. Conversar ao vivo e a cores (não, não pode se isolar das pessoas, não é possível que todas sejam chatas).
É preciso abrir espaço para reencontrar-se e não dá para esperar o momento perfeito ou uma vida com rede social adequada ou o mundo decidir ser mais consciente. As pequenezas precisam voltar a ocupar as grandezas da rotina, não interessa o ao redor. Enfiar maravilhamento nas brechas do dia me parece o tratamento para as ansiedades e angústias de tempos sombrios.
Voltei! Com uma semana de atraso, eu sei. Cheguei de viagem cheia de exames e consultas a realizar e com uma anemia para resolver de vez. Isso sim tomou tempo. Mas, a bem da verdade, a maior questão foi o tema do texto acima: muitos vazios e angústias em um começo de ano daqueles de derrubar o mais otimista de todos. Pois bem, poeira sacodida, cá estou. Senti saudades.
Vi por aí e foi bom de ler nesse início de novo ciclo:
Quatro mil semanas: gestão de tempo para mortais, da
Em 2025 eu deixei de ser modesta, da
O mergulho no desânimo. E um respiro, da
Um beijo e uma semana cheia de pequenezas boas para nós.
Feliz ano novo!
Gabi
Amaria te fazer um pouco de companhia, sair pra tomar um café e ver coisas bonitas. Um beijo
Gabi, que delícia ser mencionada ao final de uma news que tanto me tocou e moveu por dentro! Uma honra! Estamos juntas buscando maravilhamentos ❤️🔥