O desejo da perfeição nos torna distantes do existir
Edição extra e especial: novidades e um mês de Tempo para você
Este mês li um livro chamado Caderno Proibido, da Alba Céspedes, e a história é uma narração em diário da vida de Valeria, uma mulher de 40 e poucos, italiana, mãe, trabalhando fora nos anos 50. Naquele tempo, além de ser vista como velha, ela também era vista "apenas" nos papéis da maternidade, esposa, filha e profissional. Falta algo, né? Valeria só reencontra seu papel individual, seu lugar como mulher, escrevendo - ainda que enxergando o ato em si com vergonha. Diários são poderosos mesmo (falaremos mais disso nos próximos meses).
De certa forma, eu reencontrei papéis escrevendo esta newsletter. No meu caso, foi o de profissional, escritora, jornalista. Quando eu escrevia apenas para mim, meu mundo e eu permanecíamos pequenos e eu não conseguia emplacar na minha própria fala que eu sou tudo isso que descrevi. Foi fazendo, ou melhor escrevendo, que fui entendendo como aumentaria a qualidade e como encontraria a singularidade - ou seja, meu jeito de fazer uma newsletter.
Mas, não foi simples este caminhar. Tenho enorme dificuldade com as falhas; não antes de iniciar algo, ou seja não travo no pré como acontece com a maioria, mas no pós. Por exemplo, na news passada comentei sobre a aula de natação, lembram? Eu comecei mesmo sabendo que falharia, afinal não sei nadar, mas quando não acerto um novo movimento lá, me acho incompetente.
Já na parte profissional… Quando eu observava ajustes nas minhas produções ou projetos prontos - sejam de escrita ou não - me culpava por não ter sido perfeita. Melhorei esse ponto com as aulas de escrita da Ana Rüsche e da Aline Bei. Aprendi - e sigo tentando aplicar - que excelente é quem sabe lapidar.
Chanel não acertou o caimento na costura do primeiro tailleur, Virginia Woolf não escreveu com fluxo da consciência em um nível que conseguimos ler e amar no primeiro texto, Niemeyer certamente olhava para suas primeiras construções pensando no que poderia ter feito melhor.
O que nos une, portanto, como humanos é que vamos morrer uma única vez em algum momento e todos nós falharemos inúmeras vezes em vários momentos. Isso nos mostra um sintoma da nossa geração; com tantos subterfúgios para não envelhecer, não sofrer e não falhar, estamos cada vez mais fugindo de sermos humanos. Acreditar na possibilidade de sermos perfeitos dá contornos de inexistência ao viver.
Escrever e publicar, além de ser instinto, me colocou exatamente na fuga dessa perfeição. Percebo que era minha vontade de acertar sempre que me fazia não colocar no mundo minhas palavras e projetos. Portanto eu, indivíduo, assim como Valeria, não existia dado que não há possibilidade de existir de forma perfeita e eu passava os dias em busca disso.
E enfim, chegamos aqui, eu e a Tempo existindo há um mês em mãos ou telas, com uma lista de reparos e o coração pleno de ter tornado esse projeto vivo não só no mundo, mas dentro de mim.
Obrigada pela companhia e pelos feedbacks que vocês têm me enviado de diversas formas. Estou feliz e com novidades.
A Tempo para você continuará chegando às segundas pela manhã, mas com nova configuração e sem tema mensal. Decidi aderir a um fluxo mais livre por me sentir presa no formato anterior (descobertas do fazer). :)
Primeira segunda: para sentir + agenda | crônicas da vida
Segunda segunda: para refletir | ensaio ou reportagem ou entrevista
Terceira segunda: para se informar | com links sobre novidades no campo saúde, bem estar e comportamento
Quarta segunda: para se cuidar + balanço do mês | dicas para cuidar da mente e corpo e meu áudio com insights do mês
Se houver uma quinta segunda, segue sendo um conteúdo especial e surpresa.
De todo texto que fique a lição: apenas comece. É depois do medo que o frio na barriga ganha novos horizontes e é lá que você se encontra.
Dicas extras sobre o tema: a foto da capa, no Substack, é do filme Gloria Bell e a cena é da atriz Julianne Moore dançando sem medo de ser feliz, recomendo ver. Semelhante a esse é o filme brasileiro Divã com a maravilhosa atriz Lilian Cabral, mas não achei imagens. Abaixo, deixo um vídeo ótimo do Will Smith falando sobre o medo em uma entrevista.
Até segunda, bom fim de semana.
Um abraço,
Gabi