Notícias ruins: fugir ou dar a cara a tapa?
Carta para você, Para sentir e agenda de Julho
Reenvio esta newsletter porque percebi que uma palavrinha, muito importante, foi suprimida na enviada na segunda-feira (está em destaque no Carta para você). Como pode interferir na interpretação do texto, segue com o ajuste necessário. Obrigada pela atenção e compreensão.
Beijos, Gabi
Carta para você
"Eita, vida boa aperriada". Aperreio em bom nordestês significa aborrecimento, problema ou treta. Essa frase, portanto, nunca fez tanto sentido quanto nos últimos meses quando fomos atingidos por notícias daquelas de dar nó na garganta e ao mesmo tempo tomamos vacina anti covid-19 e voltamos a ter festas, eventos e viagens (ainda que a custos estratosféricos). Para ser bem sincera, as novidades trágicas não começaram este ano neste país, mas parece que estão se reproduzindo em larga escala desde a pandemia (março/2020) - até a vacina vivemos só a parte da vida aperriada mesmo.
Voltando a frase, para quem não a conhece, é o título de uma música, um forró raiz, nordestino, dessas da gente dançar bem feliz. O autor é o compositor e cantor Flávio José, o artista que conseguiu em suas letras falar de todos os infortúnios do agreste e sertão brasileiro com o toque da sanfona transformando a dor em dança. Uma arte que exige estômago, algo que parece que não estamos tendo por agora já que segundo dados do Reuter Institute, em 2022, mais da metade dos brasileiros evitam noticiários para não consumirem as notícias ruins.
O desespero no olhar de uma criança, a humanidade fecha os olhos pra não ver. Televisão de fantasia e violência, aumenta o crime cresce a fome do poder, música Filho do dono
Flávio José e sua obra me fizeram lembrar de uma outra frase, essa lá do outro lado do oceano. “A vida é sofrimento e sobreviver é encontrar sentido na dor”, do psicólogo Gordon W. Allport no prefácio do livro Em busca de sentido, do psiquiatra e sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl. O que precisamos lembrar é que sendo sofrer uma coisa ruim, o ser humano, por instinto, procura colocar todas as suas dores de lado para seguir adiando a hora de se confrontar e encontrar o sentido. Gordon sabia disso, a síntese dele é um objetivo, não uma dessas regras do Instagram sobre como viver melhor.
O fato é que é por causa deste cansaço da dor que nós escolhemos escapar das informações adversas que nos cercam. Ao mesmo tempo, Flávio José, assim como outros habitantes deste mundo, como o próprio Frankl, quando preso no campo de concentração, não teve muita escolha e precisou olhar de frente para o trágico. Esse paralelo me fez questionar se não ESTAMOS reforçando um distanciamento entre quem está literalmente padecendo e quem está acompanhando pelas telas. Será?
Ou estamos nos afetando mais pelo fato da internet e a globalização nos colocarem em contato com a dor do mundo todo, o que nos obriga a vivência-la junto com a nossa particular? Com esse tanto de pergunta e a mistura de arte nordestina com psicólogo americano e psiquiatra austríaco, cheguei no que virou o nosso tema de julho:
Notícias ruins: fugir ou dar a cara a tapa?
Acredito que sentido, seja da dor ou não, é algo particular, cada um de nós vai encontrar uma forma de enxergá-lo através das nossas bagagens o que amplia perspectivas e possíveis soluções e por isso somos diferentes. Não acredito que vamos exercer essa beleza de ser ignorando totalmente as notícias, tampouco ultrapassando limites com nossa própria saúde mental. Tem um ponto no meio e é sobre esse equilíbrio e como fazer na vida prática que será o ensaio da semana que vem, fique atento.
Enquanto isso, você também cansou das notícias?
Um beijo,
Gabi
Escapando da minha própria palavra
“Uma palavrinha perdida. Uma palavrinha que você não assume. Uma vontade. Um desejo. Um sonho. Tudo guardado num baú de impossibilidades. Esperando e esperando. Você ardendo em chamas sem saber porquê. Um desgosto com a vida. Comendo sem sentir prazer.”
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Agenda do mês
11/07: Para refletir - Notícias ruins: fugir ou dar a cara a tapa?
18/07: Para se atualizar - Banquete indigesto, De repente 30, Essencialismo e Válvulas de escape
25/07: Para se cuidar - A perereca desengonçada, perceber a felicidade, notícias boas e tempo para rir
21/07*: excepcionalmente numa quinta-feira, teremos um e-mail extra para uma novidade fresquinha e boa. :)
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esse sentir... oh, my!