A felicidade de todos nós
Ou agimos pelo bem do coletivo ou o barco afunda com a gente dentro
Sequer sabia o que era política quando minha relação com a mesma começou de forma tóxica. Minha avó, disruptiva como só ela, trabalhou anos como secretária de um político e médico e com isso sabíamos de bastidores e do tempo que vovó não tinha para viver com qualidade. Minha mãe era funcionária pública de um município pequeno em pleno anos 1990. Salários atrasavam, o espaço de trabalho não era bem cuidado, as relações eram difíceis. Meu pai participou do movimento democrático, se envolveu de forma direta com a política e depois se afastou. Sendo assim, odiei a política na infância e na adolescência.
Mas, a fruta não cai longe do pé, como dizem. Até porque as árvores reclamavam, mas debatiam em torno do assunto com frequência. Nós convivíamos, eu e minha irmã, com ciência social, economia, filosofia e geografia em conversas de almoço. Somos filhas de dois intelectuais, podemos dizer. Então, mesmo na época em que eu escrevia sobre moda, a tal política se enfiava no meio. O tema do meu tcc - uma reportagem especial - na graduação de jornalismo foi Moda na periferia. Não sou dada a enxergar os micro temas sem analisar o macro e vice versa.
Tempos depois trabalhei em campanha eleitoral e em projetos públicos, por isso fiz uma pós em Marketing político. Para minha surpresa, adorava a adrenalina do trabalho; tive a sorte de estar com equipes incríveis e com pessoas admiráveis. Sai de cena porque a parte ruim pesava muito e me faltou estômago.
Meus pés em 2012 indo trabalhar na campanha. Sempre com toque fashion tropical se não não seria eu.
No meu perfil pessoal do Instagram, posto sobre isso quase sempre. Faz parte das conversas com meus amigos. Meu marido também adora o assunto e tagarelamos bastante sobre isso, ainda mais nos últimos anos quando… bom, vocês sabem. Os almoços de família, ainda que espaçados, seguem na mesma tecla.
Mesmo com todos esses sinais, só recentemente percebi que política estava também envolvida nas minhas falas e escritas sobre bem estar. Não é estranho, já que Aristóteles definia política como a ciência cujo objetivo era a felicidade humana. E bem estar é um direito. Todos nós podemos exigir qualidade de vida, prevenção de saúde física e mental, necessidades básicas atendidas, uma cidade que nos permita andar em segurança e praticar esportes ao ar livre, entre outras coisas.
Quando este e-mail chegar a vocês, estaremos a menos de 15 dias das eleições brasileiras. Por isso e por quem sou, adicionei aos links de repertório, perfis que acompanho relacionados a política e que têm conteúdo de valor e sem fake news.
Sendo bem estar um desejo de todos os leitores aqui, é preciso lembrar que não este não será alcançado enquanto houver racismo, machismo, homofobia e qualquer outro tipo de preconceito. A imagem de capa desta newsletter, por exemplo, é da conquista do voto feminino no Brasil. Faz apenas 90 anos. Imagine se eu tivesse nascido 100 anos antes? Não teria convivido com todo este repertório apenas por ser mulher. Dá para conceber uma pessoa sem direito ao voto - nem a cargos políticos - vivendo com o mínimo do bem estar? Não participar da organização pública significa que nenhuma decisão política envolve suas necessidades. No quesito feminino, temos alguns exemplos como o acesso à remédios e métodos contraceptivos, proteção judicial contra violência doméstica e até mesmo a permissão para frequentar a escola. Esta é apenas uma amostra do quanto a política influencia na saúde mental e física da sociedade.
Escolham, portanto, com consciência, preferencialmente coletiva, quem vai direcionar o rumo para não afundarmos o barco em que estamos. “A Liberdade sem Justiça Social é uma conquista muito frágil”, de Sandro Pertini, ex-Primeiro Ministro Italiano nos anos 1970 - descobri essa frase na newsletter TravelVince, neste post.
Já que falamos em exercício físico este mês, uma reportagem curiosa sobre as pessoas que começaram o hábito durante a pandemia por sentirem falta do movimento mínimo, como ir andando até o ponto de ônibus.
"Até mesmo nos momentos de prazer e de puro ócio, a angústia nos abate: há sempre a lembrança daquele relatório que ficou pela metade, da mensagem não respondida, das horas extras que serão necessárias cumprir na próxima semana", na crônica da psicóloga Maria Camila Moura sobre autocobrança.
Esta matéria sobre como é viver nesses tempos sendo millenial, especialmente os 40+, está incrível. “É em nossos 40 anos que estamos vendo o impacto de diferentes estilos de vida”, diz Dr. Vora. (…) O tempo é real e vem para todos nós, mas Vora acrescenta que nunca é tarde demais para tentar algo novo. “Se você está se sentindo derrotado, tipo, ‘agora percebo que deveria estar cuidando melhor de mim’, acho que também é um ótimo momento para começar. A melhor época para plantar uma árvore é 50 anos atrás e a segunda melhor época é agora.” (tradução minha). Achei este trecho a cara da nossa reflexão do mês, mas tem vários outros importantes como: maternidade, crise financeira, crise de identidade e até sobre estilo. Completa!
"Só 3% dos municípios brasileiros cumpriram metas para o controle do diabetes e apenas 5% para a hipertensão, condições crônicas que levam à morte mais de 560 mil pessoas por ano no país e à internação outras 6,7 milhões.", reportagem importantíssima da Folha de S. Paulo sobre como andam os cuidados com doenças crônicas no Brasil. Não esqueça de fazer seus exames de acompanhamento!
Cena do filme Judas e o messias negro
Podemos nos informar também através da arte, então recomendo o filme Judas e o messias negro - também disponível para alugar no Google Play - que conta a história do movimento Panteras Negras através de William O'Neal que se infiltra no grupo para repassar informações sobre o presidente Fred Hampton para o FBI. Daniel Kaluuya, intérprete do Fred, ganhou Oscar de melhor ator coadjuvante nesta obra. Espetacular!
Sobre política, quem assina a versão paga da Newsletter Meio - já indiquei ela aqui - recebe uma vez por semana um especial sobre política. Muito bem feito. Na versão gratuita, devido às Eleições 2022 estão com alguns materiais especiais.
Perfis que sigo no Instagram que trazem política e atualidades de forma inteligente, sensata e madura: Juliana Diniz, Cila Schulman e Alessandra Levy del Drago.
Desejo uma semana de serenidade.
Um abraço,
Gabi.