Não leio mais os mesmos livros e nem os leio mais do mesmo jeito. Não uso os mesmos brincos. Os colares andam encostados. Uma bolsa no fundo do armário está lá há pelo menos três anos, já mudou de endereço duas vezes e nunca ocupou o meu ombro. Os sonhos de antes já não sonho mais. Carrego raivas novas. As mágoas ficaram, majoritariamente, para trás. As usei para definir quem sim e quem não e quem mais ou menos. O tempo está mais curto. Tanto o que sinto ao longo do dia quanto o que me sobra neste planeta. Mesmo assim, já não ando no mesmo ritmo. Diminui o passo. Não acordo mais no mesmo horário. Dou menos peso a algumas diferenças com os outros. E mais paciência para os novos projetos e percursos fluírem. Nem sempre consigo vencer a ansiedade e olha que ela anda diferente. Mais compassiva? Talvez. Choro com filmes que já vi mil vezes. E quando algo que escrevi ganha o mundo também. Aliás, tenho chorado com um monte de coisa. Agora consigo comer dois ovos no café da manhã. Salvo looks neutros no Pinterest. Uso tênis e gosto. Essa é das maiores reviravoltas do meu guarda-roupa. Ando menos tímida. Dou muitos abraços. Sinto muitas saudades. Tenho preguiça de assistir o que está todo mundo assistindo. E também de ler o que está todo mundo lendo. Desenvolvi apreço pelos dias nublados, deve ser por causa da mudança climática. Posso viver com uma rotina distante da que eu costumava ter e ainda ser feliz. Hoje consegui ler alguns e-mails e newsletters atrasados. Não me desesperar com a caixa enchendo, uma grande reviravolta. Me pergunto se um dia vou me sentir em casa em algum lugar de novo e a ausência de reposta não me faz perder o sono.
Me repito. Ouço a mesma playlist de sempre quando estou angustiada. Não acho graça nas mesmas piadas quando assisto pela milésima vez Friends. Converso com as amigas para enviar as mesmas reclamações de anos e algumas novas que já colecionam meses. Me ressinto por certas conquistas não realizadas. Por decisões tomadas. Ainda acho que estou morrendo por tanto cansaço e aí lembro que pode ser a ferritina baixa. E essa vontade irreal de que todos gostem de mim que não vai embora? Me alegro com o cheiro de mar e o corpo bronzeado. Meu bolo favorito é com massa branca e recheio de brigadeiro ou doce de leite. Quase esqueci do bolo merengue de morango, um deleite que São Paulo me oferta melhor que qualquer outro lugar. Sigo pensando em casas de praia em Muro Alto (PE) mesmo com a ameaça do nível do mar engolir tudo em alguns anos. Acompanho os resultados das eleições com minúcia no canal de notícias 24h. E não, isso não piora minha ansiedade.
Me vejo criança no quintal de vovó Maria rindo de alguma bobagem que fiz. Ou abraçando a árvore, um pé de jambo, enquanto inventava história na cabeça.
A imaginação segue viva. O abraço na árvore precisa voltar.
Uma semana com bolo preferido por aí.
Beijos,
Gabi
Quanta delicadeza!
Engraçado quando a gente se percebe mudando ou mudada, né? Tenho pensado nesses processos também.
Um beijo