Mais uma intelectual em Paris
Mergulhada nos leitores e nas livrarias do outro lado do oceano, encontrei a liberdade de ser quem sou
Maio, 2024.
De férias, eu e meu marido, saímos com as malas, no metrô da Bd Saint Michel em Paris, e nos encaminhamos para o trajeto sugerido pelo mapa do celular para chegar ao hotel. Fomos passando os quarteirões cruzando com as placas da Sorbonne, uma das universidades mais antigas da Europa e do mundo, cuja esta mesma localização data de 1627. Dar de cara com as indicações primeiro me deu o ânimo perdido na saída de Amsterdam, de trem, com suas sinalizações em holandês. E depois me deu uma alegria genuína porque realizei que estaríamos hospedados no Quartier Latin, endereço da Sorbonne.
A expressão "quartier" é como os parisienses dividem as partes da cidade, parecido com nosso uso da palavra "bairro".
Esta deliciosa região é chamada Latin porque ainda na época medieval, os estudantes, já maioria por ali, usavam o latim para se comunicarem entre si. Até hoje, há uma concentração de inúmeras escolas, de institutos de educação e das diversas partes da Sorbonne que foi dividida em 1970 em mais de uma instituição. Por lógica, também tem ruas recheadas de livrarias, algumas especializadas em áreas como Direito, Linguística e afins.
Os cafés da redondeza, graças a confluência acadêmica, têm mesas ocupadas por muitos estudantes diversos, ainda que tenha me parecido poucos negros e descendentes dos países colonizados pelos franceses, com livros e expressões aflitas, certamente por uma prova se aproximando. Eles andam nas ruas vestindo tênis, item adotado pelas francesas no geral que antes usavam apenas sapatilhas e saltos, e bolsas de algodão lotadas. Inclusive usam as sacolas que acreditamos ser só coisa de turista, como as da livraria Shakespeare and Company fundada em 1919 pela editora americana Sylvia Beach.
Lá era o único ponto, na década de 1920 e um tanto mais, em que era possível encontrar livros em inglês original. Passaram por seus corredores e encontros e debates escritores como Ernest Hemingway e Gertrude Stein. Por isso, é um ponto turístico dos amantes de literatura com costumeiras filas. Fomos de manhã cedo, em um dia de semana de baixa temporada, e entramos tranquilamente. Na loja, além de livros ingleses, tem as tais sacolas de algodão, bloquinhos e cadernos. Garanti a minha bolsa, claro.
Ruas museus
Andando no sentido oposto às margens do Rio Sena, na mesma Bd Saint Michel, é possível chegar no Jardin du Luxembourg, meu lugar favorito da cidade desde que pisei lá pela primeira vez há mais de 15 anos. Naquela época ainda não tinha tanta ciência de quem eu sou e menos ainda segurança para assumir quem sou, portanto explicava meu "gosto" apenas com a vasta beleza do local. Nesta ida, ainda sem clareza dos porquês do meu apreço, observei, encantada, o tanto de gente sentada nas cadeirinhas verdes, típicas do convite ao ar livre parisiense, lendo. Algumas em meio a aglomeração turística que se faz perto do chafariz central e outras mais afastadas, embaixo de árvores. Estava meio chovendo, meio friozinho, meio cara de "ficar em casa". Nada abalou os leitores.
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